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Enricando  

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Joni


Oiá lá quem vem chegando toda rebolativa precendo gente – Né a fia da Lôra? Que Lôra?! A Lôra da marquise do banco da avenida sete?! Meu deus, como o tempo passa, vi esta minina criança quando a mãe dela ainda morava na marquise da sapataria do relógio de São Pedro.

Me alembro, me alembro muito bem como se fosse hoje, ela descalçinha com a calçinha aproveitada pedindo pão e dinheiro nas escadarias da Igreja da Piedade. A mãe dela me alugou durante uns anos ela no aperto que passei, na sinaleira da direitcha da Segurança Púbrica. Tempos bons aqueles. Que sardade. Farturamos muito que dava prá fazer umas extarvagancia, num sabe? Dispois ela foi crescendo muito rápido, peitinho, cadeiras empinadas, corpo de mulé que ficou imprestada para o selviço.

Cresceu tanto que os camelôs começaram a dar psiu e a chamar ela de gostosa, que vai fazer isto e aquilo, a minina toda se achando que desandou. Deu para escorar os muros da Lapa com os piores tipos de home por qualquer trocadinho. Ficou conhecida como a rainha do boquete, mas a mãe fazia vista grossa já que tinha pão com manteiga todo dia, mas rezava para que a santa tirasse sua fia daquela vida. Só eu sei disso, a mãe passou a língua em mim para que eu ficasse de mutuca e não contasse isto prá ninguém. Aí apreceu este véio que exigiu usos e frutos e tirou ela dos urubus. Sorte grande, muita gente ficou verde de inveja.

Mas tudo tem a sua hora e o seu momento, a Lôra que não é burra nem nada, disse que a fia dela é o orgulho da famia. Que nossa senhora deu um grande tesouro que é esta minina. Ela agradece todo dia a santa na Igreja de São Pedro. Mas pelo sim, pelo não, faz também que eu já vi, uns ebós na encruzilhada do Gabinete.

Dagorinha mermo a mãe dela estava arrotando vantagem, dizendo que a fia de ouro com o véio estão cheios de pranos, coisa que toda mulé daqui do pedaço quer ter um véio rico, todo mundo sabe. Principarmente o véio que cobra proteção dos moradores de rua, que não deixa que a molecagem pertube quem dorme ali entre a farmácia e o banco. Coisa fina. Só quem está enricando é que tem estas regalias. Além do mais, elas estão até luxando. Já viu as camas dela? Camada de papelão, camada de prástico, dispois é que se coloca os cobertores. Tudo de primeira. Tem até ar condiconado para os dias de quentura escapando das frestas dos filetes da porta do banco. Quem não queria um negócio desses?!

Se antes vasculhavam - e olha que a mãe escondia de todo mundo isto. Se antes, como estava dizendo, vasculhavam não, a verdade tem que ser dita, disputavam com os cachorros o lixo de comida podre na rua do Cabeça, agora comem coisa fina. As lixeiras da churrascaria aqui da Carlos Gomes é excrusividade delas. O véio, tá vendo que ter um véio é bom, arranjou tudo isso. Ninguém mexe naquelas lixeiras senão tomam porrada. Dizem as fofoqueiras que o véio pranta comida boa e fresca nas lixeiras.

Ah...comade, como é bom ver uma pessoa que a gente conhece, que veio de baixo, lutadora, boa mãe, subir assim na vida! Dá gosto de ver um negócio desses!

Obs: façam um city tour às 22:00 pela Av. Sete, rua Chile, Carlos Gomes, Baixa dos Sapateiros e Av. Joana Angélica que só dá vontade de fazer côro e gritar: FORA SARNEY!

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9 comentários: to “ Enricando


  • 25 de setembro de 2009 às 02:45  

    Se este país tivesse políticas públicas corretas estas situações não estariam acontecendo com tanta dimensão.


  • 25 de setembro de 2009 às 13:32  

    A alienação leva o ser humano a agir dessa maneira: usar as crianças para pedir esmolas nos centros das cidades, a prostituição e a criminalidade. Enfim, faz com que as pessoas se conformem com a vida mediocre que tem. É necessário, que nossos governantes implantem políticas públicas para oferecer uma qualidade de vida melhor para toda população baiana.


  • 1 de outubro de 2009 às 15:00  

    Infelizmente, essa é a cidade em que vivemos, pobre,cheia de carências,igual a tantas outras. Joni, nesse texto você mostrou com muita sensibilidade, que apesar de tudo, o ser humano não perdeu a capacidade de sonhar, mesmo vivendo em condições miseráveis. Gostei!


  • 4 de outubro de 2009 às 05:27  

    Você consegue chamar a atenção, apontar e denunciar a miséria estampada na cara desta cidade, mas que os baianos fazem questão de não enxergar.
    Você mostra também a capacidade que tem o ser humano de se adaptar as diversidades para, sonhando, poder sobreviver - PARABÉNS.


  • 5 de outubro de 2009 às 14:14  

    Este comentário foi removido pelo autor.


  • 5 de outubro de 2009 às 14:20  

    Clélia disse...

    Você conseguiu demonstratar através desse texto a realidade da nossa cidade, que tem um povo que se contenta com quase nada graças aos nosso governantes que muito contribui para isso.
    Fantastico.


  • 5 de outubro de 2009 às 14:28  

    Candeias disse...

    Infelismente a miséria instalou-se em nossa cidade, e você de forma brilhante sobe descrever essa realidade. Que só o poder público poderia amenizar, mas não faz, deixa nosso povo entregue a própria sorte.
    Adorei!


  • 6 de outubro de 2009 às 09:41  

    Candeias disse...

    Infelizmente a miséria instalou-se em nossa cidade, e você de forma brilhante sobe descrever essa realidade. Que só o poder público poderia amenizar, mas não faz, deixa nosso povo entregue a própria sorte.
    Adorei!


  • 6 de outubro de 2009 às 14:38  

    Está é a dura realidade da vida, pessoas que comem o pão que o diabo amassou, mas não perdem a esperança no amanhã. Você retrada a vida de um maneira muito real, você tem um grande potencial.
    Muita luz e paz.
    Bja, Elvira.