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Paradoxo de Hamlet  

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Marcos Improta

Quando muito, penso...
De tudo que fui, de tudo que sou,
Nunca saberei.
Nem então, nem agora.
Mas aqui mesmo,
Com me bastar vou sendo
Deus de mim mesmo.

Penso.
E vejo – como um êxtase da minha vida,
Cuja natureza não poderei definir,
Que nunca poderei ter sido assim,
Outro.
Enfim, absorto e feliz,
Um coágulo de sangue.
Como um seixo de pensamento
Onde a idéia tropeça e cai lúcida:
Nem tudo é dor na vida.

Tenho aprendido uma coisa na vida: a essência íntima do mundo é o confronto. Pensemos na realidade das coisas e das idéias - uma tridimensionalidade do mundo - dividida assim: Empirismo, Filosofia, Espiritualidade. A primeira substancia a segunda, que tenta explicar a terceira que não tem explicação, serve apenas como subterfúgio da subjetividade da primeira.

Para entendermos melhor, observemos que na dimensão empírica da realidade está a coisa em si, a vontade, escolha, o confronto com tudo e o real. Na dimensão filosófica encontra-se a lógica e razão: ciência. Por fim, na última, a espiritualidade, está o desconhecido, a fé. O inexplicável. O primeiro estágio não se submete ao segundo. O segundo, mesmo condicionado pelo terceiro não é determinado por esse. Mas todos estão submetidos ao primeiro.

Ademais, mesmo o não-real submetido ao real, esse não deixa de influenciar naquele. Temos então o paradoxo da vida: a unidade do mistério do que somos ou não somos mas estamos sendo. Por isso somos seres indefinidos, condicionados pelo meio, mas transformadores desse.
Estamos mergulhados na inércia ilusória da rotina. Em uma sociedade pós-moderna onde não existe amanhã – apenas uma seqüência de hojes invariáveis, imperceptíveis a nossa idéia de espaço e tempo. Definir o que somos, quando ainda estamos sendo sempre, é na verdade condicionar a existência às limitação de uma realidade forjada no metal frio dos hábitos cotidianos.

Eu, talvez para me bastar, vou sendo. Ontem, fui o que exercitou a impotência diante do mundo. Hoje, sou o bardo fescenino que diz:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso quer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.*

*Fragmento do poema Tabacaria de Álvares de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) de 15.01.1928.
foto: Escultura O Pensador, Rodin

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